quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A"encanto" da Belle Epoque

É impressionante, nos dias de hoje, quando visitamos o Palácio de Versailles em Paris, observamos que o sumptuoso palácio com mais de 700 quartos não tem uma única casa de banho.

Na Idade Média não existiam os dentífricos, isto é, pastas de dentes, muito menos escovas de dentes ou perfumes, desodorizantes.. e papel higiénico, nem pensar...

Os excrementos humanos eram deitados pelas janelas do palácio....

No palácio as cozinhas conseguiam fazer alimentação para festas de 1.500 pessoas, sem a mínima higiene, que hoje consideramos imprescindível.

O mais parecido com instalações sanitárias era o batalhão de servos que andava por salas e jardins com grandes vasos ( chamados de Bourdaloue ), que os nobres ( sobretudo as damas ) utilizavam atrás de qualquer reposteiro ou arbusto e que eram despejados pelas janelas ou atrás dos mesmos arbustos... pelos serviçais, claro !!

Muitos desses vasos artisticamente decorados, fazem hoje parte de colecções oficiais e privadas. Se por acaso tiver na sua colecção, um lindo vaso francês, de boca larga e com tampa , mande-o desinfectar imediatamente.. e sobretudo não o use como fruteira..



A Rainha Maria Antonieta, que não aguentava o mau cheiro de Versailles,mandou construir um "pequeno" palácio a cerca de três quilómetros ( Le Petit Trianon ) que, como era "Petit" só tinha vinte quartinhos, mas curiosamente tambem não tinha uma única casa de banho.

Le Petit Trianon

A explicação para as pessoas sendo abanadas que vemos em filmes da época é o mau cheiro que exalavam por debaixo das saias (propositadamente feitas para conter o odor das partes íntimas que não tinham como ser higienizadas devidamente), associado ao costume de não se tomar banho devido ao frio. O cheiro era camuflado pelo abanador.

Os nobres eram os únicos que podiam ter súbditos que os abanavam para espalhar o mau cheiro do corpo e o mau hálito que suas bocas exalavam, além de ser uma forma de espantar os insectos.

Quem já esteve em Versailles admirou muito os jardins enormes e belos, que na época não eram só contemplados, mas "usados" como intalações sanitárias nas famosas festas com milhares de convidados promovidas pela monarquia, porque não existiam casas de banho.

Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria nos meses de Maio/Junho (para eles, o início do verão, portanto menos frio). A razão é simples: o primeiro banho do ano era tomado em Maio: assim, em Junho, o cheiro das pessoas ainda estava tolerável. Entretanto, como alguns odores já começavam a ser exalados, as noivas carregavam buquês de flores junto ao corpo, para disfarçar o mau cheiro. Daí temos o facto de Maio ser o "mês das noivas" e a origem do buquê de noiva explicados.

Os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa.

Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, a seguir as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças.

Os bebés eram os últimos a tomar banho. Quando chegava a vez deles, a água da tina já estava tão suja que era possível "perder" um bebé lá dentro.

É por isso que existe a expressão em inglês, que hoje usamos para os mais apressadinhos: "don't throw the baby out with the bath water" ; ou seja, literalmente, "não deite o bebé fora com a água do banho"....



Como os telhados das casas não tinham forro e as madeiras que os sustentavam eram o melhor lugar para os animais, gatos, ratos, insectos e outros animais de pequeno porte, se aquecerem. Daí o uso de dossel nas camas..

Quando chovia, começavam as goteiras e os animais pulavam para o chão. Por isso, a nossa expressão "está chovendo canivetes" tem o seu equivalente em inglês em "it's raining cats and dogs" (está chovendo gatos e cães).

Como ainda não tinham sido inventados os frigoríficos, as especiarias atingiam preços altíssimos ( algumas eram mais caras que o ouro ) e eram usadas sobretudo para mascarar qualquer cheirinho que a comida já tivesse..

Aqueles que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho ou pior ainda, de cobre. Certos tipos de alimento oxidavam o material, o que fazia com que muita gente morresse envenenada (lembremo-nos que os hábitos higiénicos da época não eram lá grande coisa..). Os tomates, sendo ácidos, oxidavam o estanho e foram considerados, durante muito tempo, como venenosos.

Os copos de estanho eram usados para beber cerveja ou uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo "no chão", com uma espécie de narcolepsia induzida pela bebida alcoólica e pelo óxido de estanho. Alguém que passasse pela rua poderia pensar que ele estava morto, portanto recolhia o corpo e preparava o enterro.

O corpo era então colocado sobre a mesa da cozinha por alguns dias e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo e esperando para ver se o morto acordava ou não. Daí surgiu o velório.

A Inglaterra é um país pequeno e nem sempre houve espaço para enterrar todos os mortos. Então os caixões eram abertos, os ossos tirados e encaminhados ao ossário e o túmulo era utilizado para outro cadáver. Às vezes, ao abrir os caixões, percebia-se que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo.

Assim, surgiu a ideia de, ao fechar os caixões, amarrar uma tira ao pulso do defunto. A tira passava por um buraco no caixão e ficava amarrada num sino.

Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar. Ele seria "saved by the bell", ou "salvo pelo gongo", expressão por nós usada até os dias actuais.

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